No final de ano as sempre presentes listas de melhores e piores em suas categorias são um lugar interessante para se tirar recomendações. Essa lista em questão é inevitavelmente de cunho pessoal e, como ser humano mutável e limitado, eu não consegui ouvir todos discos lançados este ano (apesar de ter dedicado uma parte considerável do meu tempo aos lançamentos) e nada daqui pra frente está escrito em pedra, opiniões vem e vão. Assim sendo, aqui está minha lista dos 10 melhores (e 5 menções honrosas) álbuns do ano.


Menções Honrosas (sem ordem específica)

Sigrid - Sucker Punch
Cult of Luna - A Dawn to Fear
Blood Incantation - Hidden History of the Human Race
Post Malone - Hollywood's Bleeding
Nick Cave and The Bad Seeds - Ghosteen


Sem mais delongas... o Top 10




10. Otoboke Beaver - Itekoma Hits


Gênero: Hardcore Punk/Noise Rock                                                                              Duração: 26 min

A banda japonesa vem desde 2011 lançando anualmente demos, EP's e gravações ao vivo, lançando em 2016 "Okoshiyasu!! Otoboke Beaver" que foi uma compilação do que foi lançado até então e poderia ser considerado seu álbum de estreia. Agora em 2019 com Itekoma Hits (mesmo com 5 das 16 faixas não sendo inéditas) ela tem sua estreia propriamente dita. Um álbum incansável com energia no máximo do começo ao fim, se você está procurando um álbum para relaxar ou pensar na vida passe longe de Itekoma Hits. As músicas são parecidas entre si mas causam mais um senso de coesão perpétua do que de repetição, os 26 minutos de duração nunca deixam o álbum cansativo mas sim uma injeção de adrenalina na medida certa. Com mais melodia e menos peso, lembra o que o Municipal Waste ou Suicidal Tendencies fizeram nos seus melhores anos.

Destaque para as faixas: Akimahenka, S'il vous Plait, Love is Short


9. Fontaines D.C. - Dogrel


Gênero: Pós-punk                                                                                                           Duração: 39 min

Gêneros musicais nunca realmente morrem, mas o Pós-punk chegou perto. Depois de seus dias de glória no final dos anos 70 e começo dos 80 com representantes como Joy Division, The Cure e Talking Heads o ritmo foi pouco a pouco caindo em popularidade e com a chegada do Rock Alternativo e do Indie Rock ele quase sumiu do mapa. Fontaines D.C. fez barulho com seu álbum de estréia e apesar de não chegar a ser um som popular o suficiente pra rádio, fez um sucesso considerável, sendo possível estarmos vendo o renascimento do gênero. Dogrel é um álbum perfeito para os fãs de The Cure em suas baladas e para os fãs de Talking Heads em suas músicas mais animadas, é um café com leite do gênero, mas extremamente bem executado e agradável de se ouvir.

Destaque para as faixas: Too Real, Hurricane Laughter, Roy's Tune


8. As i Lay Dying - Shaped by Fire


Gênero: Metalcore                                                                                                          Duração: 44 min

Não tem como falar sobre As i Lay Dying sem falar de seu vocalista Tim Lambesis que passou alguns anos preso após solicitar o homicídio (que não chegou a ocorrer) de sua então esposa Meggan Lambesis. As opiniões como sempre variam entre "ele não merece perdão", "ele já cumpriu sua divida com a sociedade" e "é necessário separar o artista da arte". É um álbum que eu considerei retirar da lista por essa outra questão mas fazendo isso comprometeria minha integridade pois musicalmente é um excelente disco. Os riffs são poderosos e o melhores que o metalcore ofereceu nos últimos anos e o espaçamento entre os vocais guturais de Lambesis e os vocais limpos do baixista Josh Gilbert são perfeitos. Liricamente é apenas uma turnê de desculpas do vocalista. As letras que se não são limitadas são repetitivas e em nenhum momento se aprofundam na psique de Tim Lambesis como talvez o mesmo pense. Um dos álbuns mais polêmicos do ano, mas também um dos melhores

Destaque para as faixas: Blinded, Shaped By Fire, My Own Grave


7. Baroness - Gold & Grey


Gênero: Stoner Metal/Rock Psicodélico                                                                        Duração: 60 min

O álbum é longo demais e fica fácil de observar o que deveria ser cortado. Ao tentar criar uma coesão maior entre os tons que o álbum permeia a banda acabou colocando instrumentais demais de passagem, ou uma ou outra faixa apenas como transição. Detalhes negativos que precisam ser ditos pois sem eles o álbum seria um forte concorrente a  primeira posição, pois quando ele brilha, é mais forte do que todos na lista, músicas magistrais soltas pelo álbum que valem o seu tempo.

Destaque para as faixas: Tourniquet, Cold-Blooded Angels, Pale Sun


6. Denzel Curry - Zuu


Gênero: Hip Hop                                                                                                            Duração: 29 min

Denzel Curry, que ficou conhecido após sua música "Ultimate" se tornar um meme (um som violento que deveria ser levado mais a sério), caiu nas graças da crítica em 2018 com o belíssimo e pessoal "Ta13oo". Em 2019 "Zuu", mesmo não superando "Ta13oo", foi um excelente sucessor sendo um álbum também pessoal onde Denzel entra em detalhes sobre sua infância e sua religiosidade, deixando de lado a agressividade do começo de sua carreira com canções mais suaves e melódicas, encontrando seu melhor lado musical.

Destaque para as faixas: Ricky, Speedboat, P.A.T.


5. Billie Eilish - When We All Fall Asleep, Where Do We Go?


Gênero: Pop                                                                                                                    Duração: 42 min

Billie Eilish com seu disco de estreia fez muito do que vem acabando com o cenário pop atual: falta de verdadeiros instrumentos, produção tomando conta da música e músicas que nunca “explodem”... lembra quando o pop tinha refrões pegajosos? Porém "When We All Fall Asleep, Where Do We Go?" funciona perfeitamente por ser extremamente autoral. A voz monotônica de Billie Eilish cai com uma luva no instrumental quase inteiramente composto por baixos e uma bateria eletrônica, um disco surpreendentemente emotivo com uma coesão narrativa invejável até para os grandes discos conceituais da última década. Ótimas letras adolescentes, uma produção variante entre o lo-fi e o ultraproduzido com linhas de baixo que merecem ser escutadas com o melhor fone que você tiver disponível.

Destaque para as faixas: All the Good Girls Go to Hell, Bury a Friend, Goodbye


4. Kanye West - Jesus is King


Gênero: Hip Hop/Gospel                                                                                                Duração: 27 min

Kanye West sempre foi polêmico em suas letras que trazem em si desde seu ego astronômico até sua mudança de opinião política anual, mas, mesmo assim, ao anunciar seu álbum gospel foi recebido por muitos (eu incluso) com choque. O teor moral das letras é uma discussão para outro dia, mas sua qualidade é mediana, talvez as mais fracas de sua carreira. Onde o disco se sobressai é no instrumental e trabalho de voz, com a adição do sensacional Sunday Service Choir, um ritmo as vezes alucinante e as vezes delicado no rap de Kanye e um solo de sax tocado por Kenny G na faixa "Use This Gospel" que merece destaque, esse álbum é apenas inferior a My Beautiful Dark Twisted Fantasy na discografia do rapper.

Destaque para as faixas: Every Hour, Closed on Sunday, Use This Gospel


3. Rammstein - Rammstein


Gênero: Metal Industrial                                                                                                Duração: 46 min

Nos anos 2000 Rammstein se tornou o maior nome do industrial com seus riffs propositalmente repetitivos, letras explicitamente sexuais e de teor político forte. Não houve uma mudança completa ou radical no som adolescente da banda, mas a maturação da última década sem nenhum álbum lançado é notável e a mistura do som industrial com o metal gótico mais presente aqui que em trabalhos mais antigos é magistral, sendo precisão a palavra para descrever este álbum que carrega o nome da banda. Som com as melhores características da música eletrônica, riffs poderosos e até uma balada operante fazem com que Rammstein deixe sua marca em 2019.

Destaque para as faixas: Deutschland, Radio, Was ich liebe


2. Ana Frango Elétrico - Little Electric Chicken Heart


Gênero: Indie Rock/MBP/Jazz                                                                                       Duração: 29 min

Um álbum difícil de se definir em gêneros, é uma bagunça no melhor sentido possível da palavra, com piano e bateria de jazz contrastando com uma guitarra de MPB que se transformam em um delicioso som. Tendo influências claras do som brasileiro do final dos anos 60 e começo de 70, nota-se com maior força a relação com os lados B dos mutantes. Apesar das citadas referências é um disco que caminha sozinho, um som original e maravilhoso, um sopro de vida necessário no saturado mercado do indie e MPB nacional, sendo uma voz que se destaca no meio da multidão.

Destaque para as faixas: Se no Cinema, Torturadores, Caspa


1. Lana Del Rey - Norman Fucking Rockwell!


Gênero: Trip Hop/Pop Barroco                                                                                      Duração: 67 min

Após assumir seu novo nome em 2012, Lana Del Rey nos entregou o belíssimo, apesar de limitado e ultraproduzido, álbum "Born to Die" e o excepcional EP "Paradise" no mesmo ano. Nos anos seguintes porém Lana entregou trabalhos de qualidade cada vez mais inferior. Se ainda manteve certo glamour e consistência lírica no repetitivo Ultraviolence (2014) nos discos seguintes não conseguiu o mesmo, e depois do desinspirado Honeymoon (2015) e o fraquíssimo Lust For Life (2017) parecia que seus dias de grandes músicas haviam ficado para trás. Norman Fucking Rockwell! não apenas é a volta a forma de Lana, mas também é com sobras o melhor disco de sua carreira, uma variedade musical não vista até então, apresentando uma voz vulnerável e com maior alcance, saindo do seu tom vocal de conforto mas sem perder a atmosfera criada pela mesma. Se liricamente o álbum não apresenta muita renovação, no instrumental não se pode dizer o mesmo, com a presença um som atmosférico porém nunca cansativo, sabe quando explodir e quando manter, canções quase perfeitamente produzidas carregadas de emoção e uma voz incrível que conforta e relaxa seus ouvidos, merece ser considerado o melhor disco do ano.

Destaque para as faixas: Mariners Apartment Complex, Venice Bitch, Hope Is a Dangerous Thing for a Woman Like Me to Have – but I Have It

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