Crítica - Esquadrão 6 (2019)
Os primeiros 20 minutos de Esquadrão 6 (2019) vendem um
filme que nunca vem, uma continuação espiritual de Em Ritmo de Fuga (2017), e
faz isso com uma sequência magistral de perseguição automobilística em
Florença. Realizada quase inteiramente com efeitos práticos, planos abertos e
cortes espaçados na medida da certa que te colocam no banco do passageiro,
tomadas aéreas mostrando toda a cidade com carros manobrando ruas estreitas em
alta velocidade enquanto dublês vão se jogando de edifícios, injeção de
adrenalina em caos organizado, esse começo de filme traz o melhor que o
"bayhem" tem a oferecer. Um controle de geografia de cena feito por
Michael Bay superior a qualquer cena de ação não presente em John Wick 3:
Parabellum ou Anna – O Perigo Tem Nome em 2019, em nenhum momento o espectador
é desorientado em relação ao que está acontecendo em tela, ao mesmo tempo em
que desenvolve a história e as personagens através da ação, é uma aula de como
dirigir uma cena de ação. Uma pena que ao acabar a mesma, a qualidade do filme
vai ladeira a baixo.
O humor é exatamente o mesmo durante as duas horas e sete
minutos do filme: referências a cultura popular e Ryan Reynolds (que não
precisa ser citado com o nome da personagem, pois está apenas sendo ele mesmo,
ou perpetuando a sua persona criada em Deadpool (2015)) fazendo comentários
sarcásticos em um seco tom de voz. Esses elementos conseguem funcionar em certa
medida no primeiro terço do filme, mas ao decorrer da história vai se tornando
cada vez menos eficiente até chegar ao insuportável. Parte da culpa até pode
ter sido dos atores, mas a maioria dela cabe aos roteiristas Rhett Reese e Paul
Wernick que entregam um roteiro que não é falho apenas no humor mas também em
todos os aspectos que não o da dinâmica entre o elenco.
O elenco recebe e entrega pouco, com personagens de apenas
uma camada que se comunicam quase exclusivamente através de piadas que não
encaixam e diálogos expositivos. Dave Franco até cria um personagem
interessante no seu pouco tempo em cena, Corey Hawkins consegue ser operante com seu personagem unidimensional e Ben Hardy tem uma entrega física ao
papel que é admirável, mas os elogios ao elenco param aqui. Mélanie Laurent,
que é uma excelente atriz, não entrega nada além de um bom tempo cômico em
piadas mal escritas, enquanto Manuel Garcia-Rulfo e Adria Arjona são os pontos
mais fracos do elenco.
É justo dizer que Michael Bay, se não é um cineasta
subestimado é pelo menos subentendido, possuindo características únicas, sendo
autoral e extremamente técnico, o que não o absolve de seus erros como
cineasta, mas torna reduzi-lo a apenas ao "diretor das explosões" um
equívoco. Bay sabe o filme que está fazendo a todo momento, e é consciente de
suas escolhas. Dizer isso é importante para não deixar a impressão de que as
críticas aqui expostas vem de um desrespeito ou desgosto pelo diretor, mas sim
uma verdadeira decepção pelo que foi entregue ser abaixo do esperado dele.
A história absurda de um bilionário que vai ao redor do mundo
juntando pessoas com habilidades para derrubar governos tirânicos seria
divertida o suficiente para carregar o filme sozinha se fosse melhor escrita,
mas a tentativa de trazer um coração para a história acabou selando a qualidade
baixa do filme. Cenas de campos de refugiados sendo bombardeados filmada em
perspectiva de quem está la dentro não combinam com referências sarcásticas a
Breaking Bad (2008-2013) em tão curto período.
Com uma ótima sequência de ação
no final (ainda que debilitada por sua falta de conexão com as personagens a
esta altura da história), Michael Bay entrega uma carta de amor a ele
mesmo com tudo que você espera, das infames explosões às faíscas presentes em
quase todas as cenas, passando pelo bom uso de CGI para completar suas cenas
majoritariamente trabalhadas com efeitos práticos e as já quase icônicas cenas
de suas personagens filmadas em contra-plongée se abraçando ou beijando com uma
aeronave passando por trás deles. Apesar disso, e de algumas excelentes cenas e
um elenco que apesar de ninguém brilhar individualmente tem uma boa dinâmica
interna, Esquadrão 6 comete o pior crime que um filme de ação pode cometer ao
nunca sossegar a câmera e deixar o espectador respirar, o que no fim das contas
o acaba tornando entediante.
Nota 4/10
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