Lorene Scafaria, que em seus dois primeiros trabalhos (Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo (2012) e A Intrometida (2015)) optou por uma abordagem mais leve e emotiva para assuntos sérios, muda o tom em Hustlers (2019) optando por uma abordagem mais crua na expressão dos sentimentos. Tudo nesse filme é jogado na cara do espectador com violência, mas apesar dessa diferença grande em estilo Lorene explora no centro da história o mesmo tema de seus dois primeiros filmes: Amizade.


O filme segue um grupo de strippers que após a crise financeira de 2008 perderam boa parte de seus clientes, vindos em grande parte de Wall Street para o clube. Já no começo em narração o filme já é contado que alguma atividade criminosa foi feita, e que em algum momento deu errado. Por ter um grupo de vilões tão fácil de odiar, mesmo quando nossas protagonistas tomam atitudes desprezíveis não há como sair do lado delas. O carisma do grupo é inegável e o humor que quase sempre funciona é o coração do filme. A impressão que se deixa em alguns momentos é que o filme não tinha história o suficiente pra alcançar a excelência, mostrando isso ao repetir várias vezes o mesmo tipo de cena onde as protagonistas acham um alvo rico em um bar, o drogam, levam para o mesmo quarto e estouram seu cartão de crédito. Algumas dessas cenas deveriam ser substituídas, ou pelo menos serem mais espaçadas entre si ao passar do filme, com outras sobre a infância de nossas protagonistas (que é comentado em vários momentos, e te deixa querendo mais) ou um pouco mais de história das personagens secundárias.

Quanto as atrizes, Constance Wu tem uma atuação desnivelada, estando melhor quando a cena exige emoções mais fortes como desespero, mas sem o mínimo de tempo cômico, sendo definitivamente uma escolha errada para viver a Stripper Destiny. Em nenhum momento ela consegue transmitir sensualidade, o que não era um problema no começo do filme onde sua personagem era inexperiente, mas no decorrer da história não houve nenhuma mudança em sua persona no palco, o que acaba atrasando um pouco o filme. Jennifer Lopez tem sua melhor atuação neste século e rouba completamente o filme para ela, sua personagem transpira liderança e poder a todo momento, mas também convence como a pessoa quebrada pelo sistema, a mãe carinhosa e qualquer outro papel que o filme requira dela, tendo destaque sua primeira cena de um nível de dificuldade física inacreditável.


No elenco coadjuvante Keke Palmer e Julia Stiles estão efetivas em suas personagens de uma nota só. Lili Reinhart é uma revelação na comédia, mas na parte dramática do seu personagem continua com a limitação que observamos durante o resto de sua carreira. Também tem participações no filme as rappers Cardi B e Lizzo, que apesar de suas personagens terem outros nomes estão basicamente interpretando elas mesmas.

A edição por sua vez varia entre excelente e medíocre. Se por um lado seus cortes rápidos proporcionam grandes momentos de humor e sua variação entre a entrevista e os flashbacks causam uma fluidez que faz o filme passar voando em seus minutos, por outro lado sua ciclicidade é cansativa e ainda que as cenas no quarto redondo sejam divertidas elas são muitas. Pontuar a passagem do tempo com uma música do ano sendo fundo pra uma montagem foi uma escolha que trouxe divertimento e nostalgia, eventualmente levantando a pergunta do que mais o filme tem a oferecer.


Para a mensagem que o filme passa, um diretor homem provavelmente resultaria em desastre e Lorene Scafaria mostra ser a mulher certa para o trabalho. Apesar de um estilo convencional para biografia, o filme de elenco diversificado e tópico atual cheira a Oscar com críticas sociais a todo momento, um ritmo alucinante graças à edição ágil, sendo em geral um filme tão gostoso de se assistir que te convida a rever ele futuramente. Um show de Jennifer Lopez, uma amizade bem escrita e um estilo de direção que pode não ser para todos, mas é marcante.






Nota 7/10

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