O novo filme de Wash Westmoreland, diretor do emotivo Para Sempre Alice (2014) chegou na Netflix esse mês sem fazer barulho nenhum, e não leva muito tempo de filme para se entender o motivo.


A relação entre Lucy Fly (Alicia Vikander) e Teiji (Naoki Kobayashi) pode até reter a atenção por alguns minutos, mas não muito mais que isso. O mistério policial é um dos piores na memória recente, e com exceção de Lily Bridges (Riley Keought) nenhuma personagem secundária te desperta o mínimo de interesse, sendo esse fato tão notório que até o diretor do filme os abandona no meio do filme sem concluir nenhum “arco”. A única escolha do filme que prende ao menos um pouco o espectador é o misticismo velado que te faz questionar se o filme tomará esse caminho, o que o filme traz levantando perguntas como “Será que uma foto realmente pode pegar um pedaço da alma de quem é fotografado?” ou “Será que Lily realmente consegue ver o futuro?”.

A tentativa do filme é recriar os grandes thrillers eróticos típicos dos anos 90, com alguém aparecendo morto na primeira cena, todos sendo suspeitos e iscas absurdas sendo dadas ao público na linha de De Olhos Bem Fechados (1999), Instinto Selvagem (1992), Cidade dos Sonhos (2002) e tantos outros. No entanto, ele falha não só na parte erótica como também, e mais, enquanto thriller.


Na parte erótica os atores se entregam mas o filme é contido demais, se perdendo no meio termo e conseguindo apenas criar algumas cenas de sexo desconfortáveis (desconforto esse causado pela má filmagem das cenas, não pelo contexto delas dentro da história). Westmorland tenta recriar os grandes filmes de Kubrick, Verhoeven e De Palma, e falha não apenas por ser um diretor de menor qualidade, mas também por não conseguir transmitir a perversão de seus personagens para a tela, elemento magistralmente executado pelos diretores acima. Quanto ao mistério no filme, ele é patético. A história em formato de núcleo fechado imediatamente  já elimina quase todos os suspeitos e certos truques escolhidos pelo roteiro pra causar choque são ridículos e não causam nenhum impacto na história.


Sobre a parte técnica do filme a cinematografia é operante, não tendo nada de espetacular mas sem falhas, o que é mais do que se pode dizer do resto do filme. A edição, apesar de deixar o filme mais longo do que necessário, deve ser louvada por conseguir fazer o filme não ficar em nenhum momento lento ou cansativo, mesmo que desinteressante, sendo ágil e com algumas transições de cenas completamente diferentes muito bem-feitas, como ao ir de uma cena de sexo direto para um ensaio de violino. A trilha sonora é perdida e não funciona, desaparecendo em um momento para na outra estourar os ouvidos, querendo estar na frente da cena.

As atuações são onde o filme se sobressai, com todo o elenco funcional mas destacando-se Kiley Reough e Alicia Vikander. Kiley convence 100% como a tímida e apaixonada recém-chegada ao Japão aprendendo a lidar com os costumes. Vikander por sua vez é um espetáculo, com uma atuação expressiva e cheia de nuances. É possível ver em seu rosto o ar de superioridade que sua personagem sente, o peso do passado marcado e o seu real medo de que ela carregue a morte para onde vá. Uma atuação quase perfeita que merecia estar em um filme melhor.


Wash Westmoreland está completamente fora de sua zona de conforto e isso se mostra ora em uma cena no começo do filme que deveria ser assustadora e acaba saindo engraçada ora no final do filme em momentos que eram para ser o ápice da emoção, mas são frios e sem vida. Quando a conexão entre o publico e as personagens já não mais existe ele tenta lançar algumas reviravoltas ridículas e as abandona minutos mais tarde. Com uma aleatoriedade quase surreal, roteiro comum, indecisão sobre o quer ser, narrativa não-linear que mata qualquer chance de suspense, um terceiro ato completamente anticlimático e falta de precisão na direção, Pássaro do Oriente se torna um filme vazio e completamente dispensável.



Nota 4/10

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