Como amante de cinema meu desejo ao terminar o ano seria ter apenas bons filmes para se comentar, filmes me marcaram positivamente durante 2019. Infelizmente esse não é o caso e para tirar do sistema o que assistir aos filmes a seguir colocaram em minha mente acho interessante extravasar um pouco essas ideias que vem me incomodando nos últimos meses. Obviamente não assisti todos lançamentos durante o ano, vários filmes que não considerei possibilidade alguma de serem bons propositalmente abandonei, então quase todas entradas presentes na lista eu considerei que havia possibilidade de tirar algum proveito dos mesmos com raras exceções que vieram de uma curiosidade mórbida (não, eu não vi Cats). Para a lista eu considerei filmes lançados comercialmente em 2019 mundialmente, se um filme foi lançado em festival em 2018 mas comercialmente em 2019 é "elegível", se saiu comercialmente em 2018 no seu país de origem e em 2019 no Brasil não é. Lista de cunho inteiramente pessoal e compilada sozinho.

Antes de começar a lista seria interessante também notar (ou melhor, não notar) os seguintes filmes:

The Fanatic (Dir. Fred Durst)
Yesterday (Dir. Danny Boyle)
MIB: Homens de Preto - Internacional (Dir.  F. Gary Gray)
Alita: Anjo de Combate (Dir. Robert Rodriguez)
Calmaria (Dir. Steven Knight)
Toda Arte é Perigosa (Dir. Dan Gilroy)
Aladdin (Dir. Guy Ritchie)
Loja de Unicórnios (Dir. Brie Larson)
As Panteras (Dir. Elizabeth Banks)

Sem mais delongas... Os 10 piores filmes de 2019


10. Projeto Gemini (Dir. Ang Lee)


Ang Lee ao longo de sua carreira criou obras-primas em diferentes gêneros, filmes que variam entre o Wuxia magistralmente bem coreografado de O Tigre e o Dragão (2000) e o tocante e devastador  romance de O Segredo de Brokeback Mountain (2005). Porém na última década, começando com o vencedor de quatro Oscars As Aventuras de Pi (2012) Ang Lee entrou em sua jornada para ser um pioneiro tecnológico que deixa suas tramas em segundo plano, e atingiu o ponto mais baixo dessa jornada com Projeto Gemini. Tendo apenas algumas dezenas de telas e projetores ao redor do mundo capazes de transmitir seu filme na desejada frequência de 120fps é uma escolha honestamente difícil de entender que já é tomada pela segunda vez por Ang (anteriormente também utilizando a técnica em A Longa Caminhada de Billy Lynn (2016)). Sobre a tecnologia, o rejuvenescimento de Will Smith é louvável pela parte de quem trabalhou nos efeitos visuais no filme, mas é uma escolha extremamente equivocada por parte do diretor pois veio pelo menos uma década antes de a tecnologia estar realmente efetiva. A história parecida com o recente Looper: Assassinos do Futuro (2012) e a demora de quase uma hora para a grande revelação de Henry Brogan (Will Smith) estar lutando contra um clone seu, mesmo sendo o ponto de venda de toda a campanha de marketing ajudam a afundar o filme ao nível de um dos piores do ano.

9. Cemitério Maldito (Dir. Kevin Kölsch e Dennis Widmyer)


Um filme tão brando e vazio que se torna difícil comentar sobre, é inferior a apenas mediana adaptação de 1989 em quase todos os aspectos. Alguns jumpscares mal trabalhados, tensão inexistente, uma sugestão de um culto infantil ao cemitério que não vai a lugar nenhum e quando o "terror" explode as cenas variam entre o confuso e o risível. Com exceção da premissa oriunda da mente de Stephen King que é abandonada no meio do filme e o efetivo design de som que te orienta perfeitamente pela casa nada funciona neste remake. Remakes geralmente são desnecessários mas vide que o "original" não fazia jus a história de King, Cemitério Maldito era uma das poucas refilmagens que me chamaram a atenção previamente ao seu lançamento, uma pena que o projeto final tenha acabado tão pobre.

8. Star Wars: A Ascensão Skywalker (Dir. J.J. Abrams)


Uma sucessão de cenas sem coesão entre elas que alguns podem chamar de filme, mas passa longe de ser um, um desastre colossal que me incomoda pensar no tanto de pessoas que o roteiro passou antes de ser autorizado por todas elas. "Filme" que se não fosse pelos maravilhosos aspectos técnicos ocuparia o primeiro (ou pelo menos o segundo) lugar na lista. Covarde, sem consequências e um desfecho patético tanto para trilogia, quanto para saga Skywalker, para torturantes mais detalhes leia a crítica completa do filme aqui.

7. Fim do Mundo (Dir. McG)


Se A Babá (2017) trouxe um pouco de esperança que McG poderia voltar a dirigir filmes divertidos mesmo que de qualidade duvidosa, Fim do Mundo (2019) acabou com a mesma. Humor de extremo mal gosto, que o espectador poderia tentar racionalizar se ao menos fosse engraçado, mas o teor adulto escrito para crianças representarem não encaixou em nenhum momento. A simulação de sexo oral entre um alienígena e uma criança é de uma bizarrice que é difícil acreditar que em algum momento foi considerado uma boa ideia. A piada copiada quase na sua totalidade de É o Fim (2013) onde Emma Watson aparece na casa dos sobreviventes do apocalipse e todos decidem se vão ou não, ou quem vai fazer sexo com ela não funcionou tão bem aqui, onde todos personagens envolvidos eram crianças. Uma propaganda da Adidas de quase duas horas, CGI péssimo e o provável pior roteiro do ano.

6. Hellboy (Dir. Neil Marshall)


As vezes bons filmes causam tendências ruins e Deadpool (2016) é um desses casos. Se por um lado trouxe uma necessária liberdade ao gênero de super-herói e mostrar que você não precisa se ater a uma fórmula para lucrar, por outro prendeu Ryan Reynolds perpetualmente no mesmo papel em todo filme que atua e gerou dezenas de cópias, que em outras situações seriam filmes que andariam com as próprias pernas. Hellboy entra no segundo caso, e mesmo tem um elenco recheado e uma mitologia riquíssima que poderia ser melhor desenvolvida prefere gastar toda sua duração tentando ser um filme que não é. O humor que predomina durante toda a duração do filme não funciona quase que inteiramente e as cenas patéticas de ação com um CGI terrível que já nasce datado terminam de afundar o filme, é aconselhável apenas assistir novamente as entradas de Guillermo del Toro na franquia.

5. Hex (Dir. Rudolf Buitendach)


O caso mais curioso de toda a lista, filme que assim que se tornou disponível me chamou a atenção pois surgiu com uma nota altíssima no IMDB algo raro para filmes de terror, ainda mais por não ter anteriormente alcançado nenhum tipo de barulho em festivais ou mesmo no lançamento de seu trailer. O filme é grotescamente ruim, história completamente batida do homem que viaja para uma ilha afastada da "civilização americana" e encontra uma mulher misteriosa que vai destruir sua vida, um roteiro que não se decide nunca se é um desejo de encontrar tal mulher sensual e misteriosa ou um aviso de que "mulheres são o mal do universo".  Ao pesquisar com mais cuidado descobri o motivo pelas notas tão altas no site, o diretor criou ou pagou alguém para criar mais de 1000 contas e deu nota 10 no filme com todas elas, se ao menos fosse tão criativo na hora de criar seu genérico, tedioso, mal atuado, e bizarramente mal dirigido filme.

4. Megarrromântico (Dir. Todd Strauss-Schulson)


Quando começou a ganhar fama em filmes como Missão Madrinha de Casamento (2011) e A Escolha Perfeita (2012) Rebel Wilson parecia ser o grande nome da comédia nos anos a seguir, mas a atriz de uma nota só nunca se desprendeu das mesmas piadas dos filmes citados e se em papéis menores havia se transformado em uma atriz cansativa sendo protagonista foi insuportável. O filme original Netflix tenta passar uma ideia de revisionismo que não é real, tenta desconstruir um gênero que já foi desconstruído repetidamente, a comédia romântica dentro do próprio serviço de streaming vem abandonando cada vez mais o clichê e moldando o gênero pra nova geração. O produto final é um projeto que aposta em apenas uma direção e falha, previsível, tedioso, e com exceção da belíssima atuação de Betty Gilpin não tem nada a oferecer ao espectador.

3. Godzilla II: Rei dos Monstros (Dir. Michael Dougherty)



Apesar de entregar um filme lento e que tenta excessivamente emular o estilo de Spielberg, Gareth Edwards nos levou pra dentro da cidade e embaixo do mais famoso entre os Kaiju em Godzilla (2014), um visual em escala espetacularmente bem executado te mostrando o verdadeiro tamanho e imponência do monstro, mesma qualidade que Gareth levou para Rogue One: Uma História Star Wars (2016). Em Godzilla II: Rei dos Monstros é difícil apontar a troca de diretor como único fator para o fracasso pois o roteiro é abismal, desde o batido vilão ecoterrorista até a organização secreta genérica passando pelos diálogos plásticos e expositivos. Mas em um filme que abandona qualquer resquício de humanidade e aposta somente em monstros criados por CGI se batendo e soltando raio, alguém com senso de geografia de cena e escala seria a escolha certa. Como enorme fã dos monstros japoneses como Ghidora, Mothra, Rodan e tantos outros, encontrei neste filme a maior decepção pessoal do ano.

2. A Maldição da Chorona (Dir. Michael Chaves)


Apesar de alguns filmes deploráveis como A Freira (2018) e Annabelle (2014) o universo compartilhado decorrente de Invocação do Mal (2013) vem trazendo filmes que são o melhor que o terror de massa ofereceu nas últimas décadas, é claro que essa tentativa de atingir uma bilheteria quase bilionária vem com suas limitações mas é perceptível os diretores contratados tentando burlar essas limitações pra entregar filmes que se não são "artisticamente elevados", são legitimamente assustadores e entretém durante toda sua duração. Qualidades que passam longe de A Maldição da Chorona, um roteiro preguiçoso e comum dentro do próprio universo, recheado de jumpscares tão telegrafados e mal executados que não assustariam nem quem está começando a se aventurar agora no gênero. Linda Cardellini entrega o seu melhor, mas não é suficiente para convencer as decisões inacreditáveis que o roteiro faz sua personagem tomar, as crianças são irritantes como não se via há algum tempo no cinema de terror e no apagar das luzes Michael Chaves entrega o pior filme de todo o universo, e também o pior filme de terror do ano.

1. O Rei Leão (Dir. Jon Favreau)


É assustador onde a tecnologia do CGI chegou onde é possível criar uma iluminação de cena precisa em espaços abertos sem depender das condições naturais, animais perfeitos em aparência e quase perfeitos em movimento e paisagem impecável, mas o musical Shakespeariano com animais falantes não era o lugar para se empregar tal realismo. Um filme em que o espectador nunca realmente o assiste, a todo momento está assistindo ao original apenas comparando o que foi feito igual e o que foi diferente, como tal pessoa cantou a música comparada a tal pessoa ou esperando sua cena preferida chegar. Remakes geralmente são desnecessários mas se houvesse uma premiação para filme que não deveria existir O Rei Leão de Jon Favreu levava a estatueta, inferior em todo aspecto com relação ao filme de 1994. O rosto realista dos animais os privam de qualquer emoção que o original é carregado e seria necessário para a trama, característica que teve que ser traduzida no trabalho de voz deixando o filme completamente sem vida, porém indo na contramão da falta de energia da dublagem Beyoncé canta toda música como se estivesse na final do The Voice, uma falta de sutileza que comprova ou a falta de interesse de Jon Favreau no projeto ou o ego dos artistas envolvidos acima da visão do diretor. Detalhes como os discursos quase nazistas de Mufasa aparentemente não incomodaram os roteiristas encarregados da adaptação, que se na animação o espectador conseguia ignorar em função do espetáculo, com o realismo da nova versão fica impossível de não se notar. É triste pensar no maravilhoso trabalho dos estúdios envolvidos na criação do CGI para o filme, recurso que se empregado em uma história original ou mesmo em um remake que faria sentido a sua utilização poderia resultar em um projeto maravilhoso, mas foi empregado no pior filme do ano.

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