Chegamos à segunda edição do Crítica de Bolso, o formato reduzido de criticas do blog que nos permite comentar sobre alguns filmes que não teriam espaço por aqui em textos completos. Entramos no universo do terror e separamos três filmes que apesar de pertencerem ao mesmo gênero não poderiam ser mais diferentes um do outro, tendo apenas uma mulher loira como protagonista e o lançamento em 2020 servindo de conexão entre eles.



The Hunt (Dir. Craig Zobel)


Porcos sabiamente nomeados e refrigerantes "envenenados" aos poucos revelam o tom cômico perfeito para aquele que até o momento é o único membro do clube dos ótimos filmes de 2020. A história segue um grupo da elite democrata americana que caça republicanos por diversão, um campo minado político que quase sempre consegue ser uma sátira legitimamente engraçada e de comentários pertinentes com Nick Cuse e Damon Lindelof trabalhando as surpresas de seu texto geralmente através do maravilhoso cenário. As poucas falhas do roteiro vem dos escassos mas grotescos diálogos expositivos e o medo de ideias concretas alienarem parte de seu público, impedindo assim o filme de criar uma identidade própria

O maior êxito de The Hunt está na falta de vergonha de seus criadores em fazer um filme de gênero, em nenhum momento deixando a violência e a diversão de lado para se tornar um filme "importante". Há comentários interessantes sobre "Fake News", preconceito e a polarização política atual que complementam o filme mas nunca em detrimento da hilária carnificina que é extremamente bem executada apenas com efeitos práticos e mesmo que simples, coreografada à perfeição. O elenco coadjuvante inteiro está competente e com algumas boas surpresas, mas o show fica com a protagonista vivida por Betty Gilpin que nos últimos anos vem desfilando boas atuações em péssimos filmes e finalmente tem um bom veículo a nível de seu talento.

Nota 8/10


Ameaça Profunda (Dir. William Eubank)


Quantas vezes você assistiu Guerra nas Estrelas (1977) até perceber os furos de roteiro presentes no filme? O Microondas de Ra's Al Ghul em Batman Begins (2005) mesmo que cientificamente não faça sentido algum, te incomodou? A suspensão da descrença é um exercício entre o artista e o espectador e em Ameaça Profunda o diretor William Eubank não fez sua parte. Realismo não é a primeira pedida em um filme sobre monstros marinhos pré-históricos mas o roteiro te joga em situações difíceis de engolir antes de criar qualquer vínculo com as personagens ou mesmo deixar quem assiste aceitar o tom indeciso da narrativa. O roteiro não consegue quase em nenhum momento conciliar a história dramática de suas personagens com o ridículo de sua história principal, resultando em cenas patéticas como confissões românticas ao caminhar no fundo do mar e minuto a minuto tornando mais difícil aceitar as decisões estúpidas dos ditos especialistas em seja lá qual for o trabalho deles.

O caos visual que é para supostamente ser o único atrativo dos primeiros dois terços do filme é preguiçosamente mal dirigido mas o filme ganha fôlego quando abraça o ridículo e se transforma em um pesadelo Lovecraftiano evitando assim ser um desperdício completo, a reinvenção porém, vem tarde demais e o espetáculo visual de perspectiva bem trabalhada não é o suficiente para compensar a  pobre execução do filme até então. O péssimo T. J. Miller funciona como alívio cômico e Vincent Cassel eleva qualquer diálogo pobre que recebe, mas a excelente Kristen Stewart é completamente mal utilizada em um papel que já demonstrou repetidamente não conseguir fazer durante sua carreira, a heroína de poucas expressões.


Nota 4/10


Os Órfãos (Dir. Floria Sigismondi)


Floria Sigismondi não dirigia um longa desde o competente The Runaways: Garotas do Rock (2010) e definitivamente não atendeu as expectativas colocadas sobre seu retorno, alguns minutos após o play já é claro se tratar de uma história genérica de mansão mal assombrada mesmo que contenha resquícios de algo promissor. Uma boa montagem mostrando todos os cantos da casa revela inúmeras locações com potencial para serem usadas em cenas assustadoras no terceiro ato como um portão com ponta de lança, cavalos nervosos ou agulhas espalhadas que parecem mudar de lugar. Infelizmente todo o "medo" do filme fica a cargo de reflexos barulhentos e espectros que caminham pela casa em jumpscares mal executados tecnicamente e sem sentido narrativo algum.

Dentro de suas limitações o filme é bem atuado, Mackenzie Davis é uma protagonista agradável até certo ponto extraindo o máximo possível do roteiro e Brooklyn Prince está bem como criança mas seus diálogos foram escritos para um adulto. Finn Wolfhard é a maior confusão entre as atuações pois entrega o que lhe é pedido pela diretora que é ser a pessoa mais insuportável que já andou na face da terra e não em um sentido de "vilão que amamos odiar" mas sim em ser irritante ao ponto de estragar a experiência de quem o assiste. Se existe algum motivo para o encerramento desse filme não ficar para a história é que ninguém foi ao cinema para o prestigiar, não há nem como tentar entender o raciocínio por trás do final e qual o motivo da Universal o aceitar e soltar nos cinemas. Não alimente sua curiosidade mórbida, deixe este filme passar e só volte a ouvir dele nas listas de piores do ano em dezembro


Nota 1/10

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