Neste período atípico em todo o planeta a maior diferença para o mundo do cinema foi em grande parte os estúdios segurarem suas maiores propriedades para o futuro enquanto despejam aquelas indesejadas nos serviços de Streaming ou aluguel digital. Parte considerável desses filmes são desinteressantes, equivalente aos que na era pré-internet eram chamados de "filmes de janeiro" despejados no cinema no primeiro mês após a exaustiva temporada de premiações que contavam com aqueles projetos mais carregados de drama. Circunstâncias essas que aliadas ao completamente desconhecido elenco e o diretor Andrew Patterson com seus roteiristas James Montague e Craig W. Sanger serem estreantes torna "A Vastidão da Noite" não apenas a maior surpresa desse período como também com algumas sobras o melhor filme do ano que vai chegando em sua metade. 


Situada na década de 1950 a história segue os jovens Fay Crocker e Everett Sloan, respectivamente uma operadora de telefonia e um radialista que escutam um som estranho interferindo em seus instrumentos e partem em busca de respostas conversando com pessoas que também tiveram contato com o mesmo som no passado. É evidente logo na primeira cena que tipo de filme iremos assistir com uma linda homenagem a abertura de Além da Imaginação (1959–1964) onde o narrador nos convida a entrar no "Teatro Paradoxo" que transita para uma imagem sem cores de uma cidade pequena e uma estrada remetente ao episódio The Hitch-Hiker (1960) assim reafirmando a reverência ao programa. 

Filmes inspirados na espetacular série não são raros mas geralmente falham em capturar a essência otimista e o amor pela ciência presente nela mesmo em seus episódios mais tristes ou sombrios, e quando conseguem replicar o tom deixam uma sensação de que aquela história deveria ser mais curta ou jogada em uma série antológica nos padrões de Black Mirror (2011 - Presente) que é o sobrinho pessimista de Além da Imaginação mas "A Vastidão da noite" carrega com maestria durante toda sua duração o sentimento de paranoia e encantamento pelo desconhecido.


Apesar do baixíssimo orçamento é um filme cheio de estilo e identidade própria com cenas que sem uma palavra sendo dita consegue dispor o clima e a ambientação exata para o espectador. Ainda no primeiro terço há uma tomada única onde a câmera permanece quase imóvel por nove minutos e espalhados por todo o filme planos-sequência que não apenas possuem função narrativa como são executados com maestria.

O sagaz roteiro é dependente de histórias contadas no boca a boca em alusão aos dias da ficção científica de rádio mas nunca se torna pedante devido ao claro amor depositado ao gênero através de cada pequena conversa e mesmo cheio de diálogos se mantém sempre acessível. De nada adiantaria todo esse charme e estilo da direção caso essas longas cenas não fossem costuradas pelas maravilhosas e complicadas atuações de Sierra McCormick e Jake Horowitz durante todo o filme e Gail Cronauer em sua única mas emocionante cena.


Mesmo distribuindo amor e referências visuais para Além da Imaginação (1959 - 1964) e tendo um esqueleto parecido com Pontypool (2008) talvez a maior inspiração para o filme seja a famosa transmissão de rádio feita por Orson Welles em 1938, ao narrar o livro Guerra dos mundos (1898)  como se fossem notícias reais. É um filme que chegou na Amazon Prime Video com pouco barulho mas não deixe continuar assim, vá correndo assim que possível assistir este hino a paranoia, carta de amor a ficção científica e uma narrativa quase sem defeitos que ao olhar para o passado com tanto carinho nos traz um pouco mais de esperança ao futuro.





Nota 9,5/10

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