Os 10 Melhores Álbuns de 2020
O mesmo ser humano limitado dos parágrafos introdutórios nas listas do ano passado também se encontra nessas atuais, possivelmente ainda mais pois preferiu reservar seu tempo primário ao cinema e dividir as preciosas horas de ouvir lançamentos com um aprofundamento em Fagner e Bad Religion. A lista de 2020 é na medida do possível menos polêmica que a do ano passado pois não tem álbum gospel ou vocalista preso por tentativa de homicídio, e ainda no espírito de evitar polêmicas não me preocuparei com a lista dos piores mas com certeza estariam presentes a ex-excelente banda Green Day, a tentativa de Danzig em cantar Elvis Presley, o aclamadíssimo do Against All Logic e o álbum "raro" mais comum possível de Selena Gomez.
Antes da lista algumas menções honrosas, álbuns que eu gostei muito mas não entraram no top10, sem ordem específica.
Ulcerate - Stare Into Death and Be Still
Buckethead - Healing Inside Outside Every Side
Yves Tumor - Heaven to a Tortured Mind
Haim - Women in Music Pt. III
Run the Jewels - RTJ4
R.A.P. Ferreira - Purple Moonlight Pages
Luedji Luna - Bom Mesmo É Estar Debaixo D'Água
Dua Lipa - Future Nostalgia
Oranssi Pazuzu - Mestarin kynsi
Bring Me the Horizon - Post Human: Survival Horror
Sem mais delongas...
10. Rina Sawayama - Sawayama
Gênero: Dance-Pop, Nu metal
Duração: 43 min
Raridade dentro do pop atual, Sawayama funciona infinitamente melhor como obra completa do que conjunto de músicas, é imperativo ouvir as faixas em ordem para entender o real poder do álbum. A mistura de estilos encaixa com tanta fluidez em razão de as faixas seguirem uma fórmula, quase todas com pouco mais de três minutos e refrãos explosivos colocados geralmente nos mesmos setores de cada música, conseguindo causar um sentimento de familiaridade sem soar cansativo, um debut impressionante e agressivo.
Destaque para as faixas: STFU!, Akasaka Sad, Who's Gonna Save U Now?
9. Triángulo de Amor Bizarro - Triángulo de Amor Bizarro
Gênero: Noise Pop, Shoegaze, Pós-punk
Duração: 42 min
Quinto lançamento da banda espanhola que ao se aventurar um pouco até no industrial acaba seguindo a temática não oficial da lista: ser uma bagunça coesa de estilos. A dupla de vocalistas revezam entre canções sem nunca quebrar a atmosfera singular do álbum que aposta nos exageros como ponto de ligação entre os diferentes ritmos, se é para conter distorção irá soar como lo-fi, se é para ser agressivo não será possível ouvir a letra, se é para ser romântico parecerá um melodrama da era de ouro de Hollywood.
Destaque para as faixas: No eres tú, Fukushima, ASMR para ti
8. Denzel Curry & Kenny Beats - Unlocked
Gênero: Hardcore Hip Hop
Duração: 17 min
Denzel que também esteve na lista de 2019, enquanto continuar soltando anualmente sons dessa qualidade terá presença garantida no balde. Com apenas dezessete minutos (ou mais curto que algumas músicas do Pink Floyd) Unlocked é um álbum direto ao ponto e de agressividade impressionante. Ainda que não tenha conseguido superar sua (até então) obra-prima "Ta13oo", o que Denzel Curry está fazendo no Hip Hop ninguém mais está, é um som único e constantemente em alto nível.
Destaque para as faixas: Take_it_Back_v2, DIET_, So.Incredible.pkg
7. Immanuel Wilkins - Omega
Gênero: Post-Bop, Avant-Garde Jazz
Duração: 63 min
O saxofonista de vinte e três anos (ainda mais jovem que este inexperiente "escritor") parece ser o nome que causará maior euforia dentro do jazz nos próximos anos, o gênero que conforme foi caindo em popularidade mais foi erroneamente relacionado a calmaria ou "música de elevador" e hoje sem nenhuma esperança de proeminência em rádios parece que pelo menos encontrou um maior porta-voz do caos. Nomear seu álbum de estreia como "Omega" já revela um pouco sobre a dissonância e bagunça (no melhor sentido possível da palavra) encontrada em seu som, um álbum difícil porém imperdível.
Destaque para as faixas: Ferguson – An American Tradition, Part 2. Saudade, Omega
6. Blu & Exile - Miles
Gênero: Jazz Rap
Duração: 95 min
Com raríssimas exceções como Quincy Jones e Kendrick Lamar, o Jazz Rap nunca conseguiu chegar ao mais popular e se até o Rap Metal já teve seu lugar ao sol talvez chegou a hora deste subgênero. O destaque maior de "Miles" é que dentre as suas vinte faixas não existe uma única que seja fraca ou descartável, a dupla formada pelo rapper "Blu" e pelo produtor "Exile" entregam um trabalho inspirado do começo ao fim com destaque a metade de Exile que mostra um conhecimento instrumental inacreditável, talvez seja o caminho de volta do jazz ao grande público.
Destaque para as faixas: When the Gods Meet, Troubled Water, African Dream
5. Rapadura - Universo do Canto Falado
Gênero: Hip Hop, Repente, Baião
Duração: 51 min
Ceará, Nordeste, Brasil.
Sem hesitação ou pudor em ser político RAPadura Xique-Chico ou apenas RAPadura explora o passado do Ceará musicalmente falando enquanto suas letras abraçam o presente. Não existe o que reclamar em nenhum aspecto de composição ou produção, álbum de referências ricas e pontualmente dispostas, o que dizer do maravilhoso sample de "Súplica Cearense"? Melhor álbum nacional do ano e também melhor álbum de RAP em geral, imperdível.
Destaque para as faixas: Olho de boi, Aboio, Meu Ceará
4. Fiona Apple - Fetch the Bolt Cutters
Gênero: Art Pop, Alternativa
Duração: 51 min
Hora da confissão, até a massivamente positiva recepção crítica de "Fetch the Bolt Cutters" eu só conhecia Fiona por nome, aquela artista que "eventualmente eu ouvirei" e se você se encontra onde eu estava não perca mais tempo. Fiona possui uma discografia extremamente concisa, cada álbum com uma ideia central e variações dentro dela sem nunca cair nas arrogâncias desnecessárias e comuns dos álbuns conceituais. Seu novo projeto não é exceção, todo o poder da musica de Fiona está presente aqui conseguindo ao mesmo tempo ser intimo e acessível, pessoal e relacionável, agradável e agressivo.
Destaque para as faixas: I Want You to Love Me, Under the Table, Cosmonauts
3. Sevdaliza - Shabrang
Gênero: Art Pop, Trip Hop
Duração: 62 min
Segundo lançamento da cantora iraniana que não tem pressa nenhuma em dispor a atmosfera proposta, um álbum sem gordura sobrando mas que também não permite o ouvinte o deixar de fundo enquanto lava a louça, som fácil de se digerir mas que exige certo comprometimento com o ambiente. Mais sombrio musicalmente falando que os companheiros do gênero conta com ótimas misturas de sons clássicos vindos de sua raiz persa e modernos em forma de percussão eletrônica.
Destaque para as faixas: Joanna, No Way, Comet
2. Liturgy - Origin of the Alimonies
Gênero: Avant-Garde Metal, Black Metal, Música de câmara, Opera
Duração: 37 min
Considerei colocar apenas um ponto de interrogação ou "Experimental" no lugar de gênero pois o que Hunter Hunt-Hendrix vem fazendo com o Liturgy é complicadíssimo de ser definido, Hunter sempre buscou uma experiência transcendental ou quase religiosa em sua música e parece que com "Origin of the Alimonies" ela finalmente conseguiu, as flautas doces e violinos suaves transitam perfeitamente entre os sons guturais de sua garganta e a bateria nervosa como metralhadora, resultando em puro frenesi.
Em nota pessoal e como alguém que cresceu ouvindo rock e metal é deprimente ver o atual estado do que te fez se apaixonar por música, muito se reclama do pop atual (com razão pois já viveu dias melhores) mas o que aconteceu com o rock está em outro patamar de decadência é como já reclamou O Terno em "66"...
"Então não sei o que eu devo fazer pois se eu não posso inovar eu vou cantar o que já foi e vão dizer que é nostalgia e que esse tempo já passou e eu tô por fora do que é novo mas se é novo falam mal"
É engraçado que o refúgio encontrado no estilo vem sendo no Black Metal que já defini como "apenas barulho" mesmo quando tudo que eu ouvia era Sepultura, Lamb of God e afins, deveria ser óbvio porém que o único estilo que nadaria contra a corrente de conservadorismo do rock e metal foi aquele que nasceu das igrejas sendo queimadas.
Destaque para as faixas: The Separation of HAQQ From HAEL, SIHEYMN's Lament, The Armistice
1. Natalia Lafourcade - Un canto por México vol. 1
Gênero: Ranchera, Mariachi, etc
Duração: 62 min
Uma salada de estilos que pode ser mais facilmente definido como "música tradicional mexicana" conta com Natalia Lafourcade revisitando musicas próprias em outros estilos, canções clássicas de seu país e também algumas faixas inéditas. Seria o equivalente nacional á um álbum com clássicos do forró, frevo, mpb etc. Um álbum necessário para quem quer sair da mesmice e conhecer novos sons e para quem já é fã da música mexicana é uma excelente coletânea, o melhor álbum do ano.
Destaque para as faixas: Mi religión, Nunca es suficiente, Lo que construimos
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